A Associação

História

Origens dos Bombeiros Voluntários em São João da Madeira (1926-1928)

Em 1924, por lei nº 1.617, de 5 julho, na sequência de mais um conflito que, nesse mesmo ano, opusera São João da Madeira à Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, aquela povoação passou à categoria de vila. Era o primeiro passo para a transformação de São João da Madeira em concelho, o que se veio a concretizar dois anos mais tarde, já depois do Movimento Militar de 28 Maio de 1926. Com efeito, pelo decreto nº12.456, de 11 Outubro de 1926, Freguesia de São João da Madeira foi desanexada do concelho de Oliveira de Azeméis, a que pertencia, e passou a constituir um município autónomo, com sede na vila do mesmo nome.

Era, finalmente, o reconhecimento político de um aglomerado urbano que, com as suas numerosas fábricas e oficinas, dedicadas sobretudo à indústria de chapelaria, nas quais trabalhavam milhares de operários, constituía o centro industrial mais importante do distrito de Aveiro, sustentando" ativas e grandes transações com o país e as colonias" e necessitando assim de "efetivar a resolução de necessidades urgentes e cada vez maiores, quer de expansão industrial, quer de progresso social", nomeadamente, a criação de estabelecimentos de crédito indispensáveis ao seu movimento industrial, a construção de casas baratas para operários abastecimento e canalização de águas e o desenvolvimento das instituições já existentes.

Após a constituição de São João da Madeira enquanto município independente, e integrando o distrito de Aveiro, bem depressa os responsáveis do município sentem a necessidade de organizar um serviço próprio de bombeiros, o qual pudesse assegurar a proteção de toda a população do novo concelho, bem como todos os bens públicos e particulares e os recursos naturais existentes no seu território, o que se veio a formalizar solenemente em 30 de Abril de 1928, através da fundação da Associação de Bombeiros Voluntários daquela cidade, que foi subscrita por trinta e quatro eméritos sanjoanenses, os quais constituíram os fundadores iniciais da Associação, após uma primeira reunião realizada para o efeito em 28 de Abril de 1928.

De facto, a constituição de um corpo de bombeiros permanente e atento tornava-se imprescindível num concelho com grande concentração de indústrias, que manuseavam diariamente produtos e matérias-primas altamente inflamáveis, como no caso de fabrico de chapéus, borracha e outros produtos, por exemplo a estearina ou a madeira. A existência de um grupo de homens que estivesse alerta e pronto para ocorrer a qualquer calamidade ou desastre que deflagrasse era, então, já no início do seculo passado, uma exigência irrecusável numa região que aspirava ao desenvolvimento social e ao crescimento económico de toda a sua população.

A perceção desta necessidade era, de facto já sentida desde o primeiro lustro dos anos de 1920 - e anterior, portanto, à constituição oficial do concelho, altura em que o Grupo Patriótico Sanjoanense, presidido por António Henriques, iniciaria as primeiras diligências no sentido da criação de tal associação. Assim, entre 1923 e 1926 verificamos já uma Acão organizada, persistente e orientada por este grupo cívico local e que seria determinante para a criação futura da associação dos Bombeiros Voluntários. Coroando todo o esforço dos cidadãos sanjoanenses, a organização do corpo de bombeiros é confiada finalmente ao emérito Carlos Santos na altura, chefe da Caixa Geral de Depósitos de São João da Madeira.

A primeira Reunião da Assembleia - Geral, que foi a reunião constitutiva da Associação dos Bombeiros de São João da Madeira, congregou diversos cidadãos sanjoanenses e realizou-se, como dissemos, no dia 30 Abril desse mesmo ano de 1928 (apenas dois dias depois de ter sido confiado a Carlos Santos a organização da mesma Associação), tendo lugar na secretaria da Câmara Municipal do Concelho. Pela sua importância e pelo seu valor simbólico para a Associação dos Bombeiros e para todos os sanjoanenses, passamos a transcrever a acta dessa mesma reunião.

Ata nº1

Aos trinta dias do mês de Abril de 1928, reuniram-se pelas 19 horas, na secretaria da Câmara Municipal deste concelho de São João da Madeira, distrito de Aveiro, todos os cidadãos que esta acta assinam para deliberar entre si e a fundação duma Associação de Bombeiros Voluntários. Foi constituída a mesa com o Sr. José António das Neves, na presidência, secretariado pelo Sr. Valeriano de Barros Frutuosos e Inocêncio Pereira Leal. Expostos pelo Sr. Presidente, com detalhe, os fins desta reunião, foi dada a palavra ao Sr. Carlos Santos, que esclareceu a Assembleia de que, tendo sido incumbido de continuar os esforços do Grupo Patriótico Sanjoanense, no sentido de completar a organização dum corpo de bombeiros, podia informar que os resultados se apresentam bastante satisfatórios, pelo que propunha que se constituísse imediatamente a Associação dos Bombeiros Voluntários de São João da Madeira e se abrisse a Inscrição para o corpo combatente. Foi referida proposta aprovada por unanimidade.

Em seguida, foi presente um projeto de estatutos que comporta 9 capítulos e 50 artigos e que também mereceu unânime aprovação, pelos presentes foi dado um voto de confiança à mesa e ao Sr. Carlos Santos para levarem a termo todas as diligências referentes à aprovação dos estatutos e consequente organização da Associação dos Bombeiros Voluntários de São João da Madeira e constituição do corpo combatente. Resolveu mais a assembleia que os mesmos Srs. se incumbam de proceder aa um inventário geral do material de incêndios existente nesta data com a indicação do respetivo valor e origem do dinheiro com que foi pago. E nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião às 20h30. Para constar se passou a presente acta que vai ser assinada por mim, Valeriano de Barros Frutuoso, secretário, membros da mesa e cidadãos a ela presente.